Relatos de censura

Durante o mês de março, disponibilizamos um formulário online para que bibliotecárias e bibliotecários de todo o nosso país pudessem relatar, anonimamente, casos de censura que sofreram em suas bibliotecas, em suas atividades, em seu acervo. Disponibilizamos abaixo todos os relatos que recebemos. Caso você ainda queira contribuir, basta preencher este formulário, pois nossas bibliotecas não devem se calar!
Quanto a tipologia de bibliotecas, temos a seguinte configuração:
– Biblioteca Escolar: 34 relatos
– Biblioteca Pública: 13 relatos
– Biblioteca Universitária: 12 relatos
– Biblioteca Especializada: 4 relatos

A partir do TCC em Biblioteconomia de Renata Viana, defendido em 2023 na Universidade Federal de Santa Catarina, orientada pelo Prof. Dr. Enrique Muriel-Torrado, recebemos novos relatos que foram adicionados a este site.
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RELATO 1: “A Biblioteca pública do município de Cachoeira do Piriá (Pará), recebeu um acervo de aproximadamente 2500 exemplares, entre eles alguns de Marx. A biblioteca está subordinada à secretaria de educação do município, a qual está sob a administração de um secretário de educação que não aceita esse tipo de obra na biblioteca. Na época em que eu era o bibliotecário tentei explicar a importância de se ter no acervo um livro como este. Mas os argumentos foram ignorados e um mês depois fui exonerado do cargo (sob o argumento de falta de recurso para honrar o salário). Hoje há outro profissional, ainda não abriram concurso público para a cidade, ficamos à mercê de administradores como esse.”

RELATO 2: “Uma colega de profissão queria jogar fora livros espíritas que tinham na biblioteca por ser algo contrário a sua fé. Minha reação foi de não permitir de maneira alguma e expliquei que a BIBLIOTECA Municipal é da comunidade, de todos. E por isso deve ter livros de diferentes gêneros e temáticas.”

RELATO 3: “A psicóloga da escola foi à biblioteca quando eu não estava e fez a auxiliar imprimir a lista de todos alunos e funcionários que tinham retirado o livro ‘Persépolis’ (foi leitura obrigatória em 2017) e disse que iam fazer um trabalho com estagiários. A funcionária não me contou num primeiro momento. Soube quando a direção disse que tinha retirado o livro e que eu devia comunicar que não existia o livro. Questionei a direção e um pai questionou o conteúdo de um beijo entre homens em uma ilustração e que então este livro não fazia mais parte do nosso acervo.”

RELATO 4: “Certa ocasião um diretor de uma faculdade em Jaraguá do Sul entrou na biblioteca e perguntou onde ficavam as revistas Veja (ele não frequenta a biblioteca e nem sequer sabia a disposição do acervo) e indiquei o local. Ele pegou todas as revistas que tinham como manchete notícias referente ao juiz Sérgio Moro e rasgou-as, alegando que não era de acordo com o que estavam escrevendo sobre ele e disse “isso que estão fazendo com o cara é uma puta sacanagem, ele é um cara honesto”. Ainda disse que não iria mais assinar a Veja pois ele não ia “compactuar” com aquela “sacanagem”. Eu, bibliotecária da instituição na época, muito assustada com o que estava acontecendo e com a alteração dele (ele estava visivelmente alterado e irritado) pedi que ele se acalmasse e não fizesse aquilo pois era patrimônio da instituição e era necessário que os usuários tivessem acesso a todo tipo de informação… mas ele me interrompeu e continuou a rasga-las. Eu só tive tempo de retirar as etiquetas para dar baixa no sistema. Ouve uma denúncia na ouvidoria, pois no momento haviam alunos e professor na biblioteca que também presenciaram o acontecido. Com essa denúncia, de um diretor de faculdade rasgando revistas na biblioteca por não estar de acordo com o conteúdo que ela trazia, resultou em uma chamada de atenção pela direção regional e ele foi obrigado a repor as revistas ao acervo. No dia seguinte a denúncia ele devolveu apenas uma das revistas rasgadas.”

RELATO 5: “[A censura veio pela] Chefia imediata, no caso responsável pela Coordenação Pedagógica. Minha reação foi ficar calada, pois se falasse alguma coisa poderia (e ainda posso) sofrer algum tipo de represália. A partir dessa situação, não coloquei mais Paulo Freire como sugestão de compra. Mas tento, através de outras obras, incentivar o pensamento crítico.”

RELATO 6: Certa ocasião em uma faculdade em Jaraguá do Sul, eu bibliotecária na época deveria planejar e desenvolver atividades para a semana do livro e da biblioteca 2019, que a rede de bibliotecas da instituição realizava anualmente em todas as unidades. O tema desse ano era Fake News, eu levei o assunto em uma reunião com a coordenação de ensino superior a qual a biblioteca e eu éramos subordinadas e não foi aprovado o tema com a alegação que o tema “fake news” lembrava muito as últimas eleições e o presidente em exercício, o que ela (coordenadora) achava que desagradaria a direção (aquele que rasgou as revistas) e causaria tumulto, que não deveríamos “mexer mais nesse assunto”. Eu aleguei que iria pelo viés dos perigos da fake news na área da saúde e a importância de não propaga-las, como no caso das fakes da vacinação, criei todo um cronograma de atividades para a semana do livro e da biblioteca que não foi aprovado e nem autorizado o evento, não houve semana do livro em 2019 naquela instituição.”

RELATO 7: “A censura partiu pelos chefes. Durante um mês inteiro a biblioteca trabalhou em parceria com os estudantes do local, fomentando a pesquisa, a discussão e a expressão artística. Em meio a pesquisa, os alunos conheceram os lambes lambes, e começaram a fazer poesia concreta para se expressar. Um dia antes do evento, os chefes fizeram com que tais manifestações culturais fossem apagadas. O clima de censura e perseguição perdurou por muito tempo, acontecendo inclusive represálias como demissão. A única esperança foi resistir. Fizemos (equipe) o que melhor conseguiríamos. Entregamos um sarau maravilhoso, em que cada apresentação reverberou como ato de resistência. No mesmo local, também fomos incentivados pela chefia a esconder livros que tratasse da causa LGBTQI+, para “evitar problemas futuros”. Tal recomendação se deu na época do caso do Santander.”

RELATO 8: “Durante a seleção de obras para uma exposição de livros infanto-juvenis para a Semana de Consciência Negra em 2018, a chefia da biblioteca vetou a exposição de cinco obras que tinham como temática religiões de matriz afrobrasileira, sob a alegação de que alguns pais e/ou responsáveis poderiam se sentir “ofendidos”. A equipe apresentou uma série de argumentos, inclusive citando artigos da Constituição Federal, no entanto, devido a questões internas (assédio moral), a chefia manteve o veto e a exposição ocorreu, infelizmente, sem os referidos títulos.”

RELATO 9: “O Secretário de Cultura e Turismo fechou a Biblioteca Pública que está em um Prédio Tombado sem qualquer preocupação com conservação do acervo para uma reforma de cunho político, transferindo a bibliotecária para um arquivo de outra secretaria. Apesar da bibliotecária entregar um relatório falando da importância da Biblioteca Pública e do seu acervo, não foi dada a importância devida. Infelizmente, neste país são poucos que dão o verdadeiro valor para as nossas Bibliotecas Públicas.”

RELATO 10: “Eu estava como chefe da biblioteca e era responsável pelas redes sociais. Atualizava o Google Maps, Instagram e Facebook. Sempre lembrava das minhas aulas de Marketing na graduação e me espelhava em bons exemplos de outras Bibliotecas.
No mês de Junho, mês da diversidade, usei um tema arco-íris na foto no perfil do Facebook. Na foto está a fachada da biblioteca e o logo da universidade federal.
Já havíamos apoiado o mês rosa, o azul, o amarelo… o mês arco-íris seria apenas mais um. Os usuários se sentiriam ainda mais acolhidos. Isso foi numa sexta, na segunda fui chamado pelo chefe (diretor). Fui chamado pois minha postagem incomodou a direção da universidade. Embora meus exemplos de outras bibliotecas e órgãos públicos que aderiram a campanha, a alteração na foto foi entendido pela direção como uma bandeira do administrador da página. Que a instituição deveria se ausentar de pautas ideológicas e partidárias. Naquele momento me senti profundamente triste. Em pleno século XXI, em uma universidade, um professor doutor realizar censura. Embora não concordasse com aquilo, eu estava em estágio probatório e uma possível retaliação estava evidente que ocorreria se eu não retirasse a publicação.
Assim fiz, apaguei a foto postada. E exclui todas as redes sociais da biblioteca. Talvez hoje eu me arrependa de ter apagado tudo. Muitos alunos perguntavam no balcão o que tinha acontecido com a página. Outros perceberam que o sumiço da página ocorreu logo após a postagem da foto. Depois disso entrei em quadro depressivo decorrente do ambiente de trabalho. Consegui superar esse quadro há alguns meses. Embora ainda esteja na instituição, meu desejo é que no próximo dia do Bibliotecário eu não esteja mais aqui. Obrigado e perdoe-me pelo longo texto.”

RELATO 11: “O livro da família” de Todd Parr apresenta as diferenças das famílias, abordando assuntos como adoção, diferenças raciais, culturais e sociais. Esse livro foi retirado da biblioteca pela pedagoga do Ensino Fundamental I sem qualquer explicação. Descobri posteriormente que algum responsável/pai de aluno questionou o empréstimo desse livro alegando que vai contra os valores da família tradicional por apresentar no livro uma família composta por casal de homossexual. Até hoje o livro não voltou para o acervo e como bibliotecário não tive o direito ao diálogo.”

RELATO 12: “Uma professora do 5º do Ensino Fundamental I alegou que o livro “Extraordinárias: mulheres que revolucionaram o Brasil” não era apropriado para a turma dela. Eu questionei qual era o motivo da restrição e a professora disse que era muita informação/texto e conteúdo não apropriado. Fiquei surpreso, pois o livro é infantojuvenil e as biografias de cada mulher não passam de 3 páginas. Expliquei que o livro não precisa se lido por inteiro, pois funciona com um dicionário biográfico e que inclusive poderia ser um ótimo instrumento de apoio pedagógico das aulas de história. Mesmo assim, manteve sua restrição.”

RELATO 13: “Escola católica, um aluno filho de pais de direita falou que a bibliotecária anterior só comprava livro feminista. Este livro (O útero é do tamanho de um punho) foi comprado, mas censurado, mesmo ele caindo no vestibular. A bibliotecária anterior foi demitida e eu tive que esconder ele e só emprestar para quem estava no terceirão. Agora deixo ele nas estantes de poemas/poesia mais altas e quando este aluno vai com o professor na biblioteca eu os retiro. Ele se forma este ano.”

RELATO 14: “[A censura partiu] Por um funcionário que fez leitura da obra “Sete Pecados” e disse que não poderia ser exposta porque a biblioteca é universitária e este tipo de literatura não condizia com o acervo, principalmente por ser religiosa. Mas os setes pecados estão explícitos na Bíblia e uma informação não pode ser escondida porque ela está em um formato claro de entendimento.”

RELATO 15: “Um dos altos membros da direção vetou que o livro “O menino de vestido” fosse incorporado ao acervo, pois afirmava que ele “legitimava” um ato e que a escola não poderia ser conivente com isso. Disse que uma criança não podia ter acesso aquela história (que é sobre um garoto que gosta de moda e futebol e um dia decide provar um vestido e se apresentar como alunA de intercâmbio) pois poderia dar a impressão de que a escola estaria incentivando uma prática.”

RELATO 16: “A censura foi realizada em uma visita de reconhecimento de curso por avaliadores do MEC. A disciplina era voltada à Filosofia, Sociologia e Antropologia de um curso da área da Administração e, inclusive, tratava-se de uma disciplina comum em diversos outros cursos. O avaliador pediu para ver as bibliografias de tal disciplina e ao ver os livros da [Marilena] Chauí indicados como uma das bibliografias básicas, fez o comentário de não entender o motivo de indicarem tanto tal autora, visto que ela não era parcial já que ela ajudou a fundar o PT, etc, etc. Eu aleguei que isso não invalidava de forma alguma a obra como referência na área de Filosofia, visto que é uma ciência e que por isso tal obra tinha sido escolhida e não por questões partidárias.”

RELATO 17: “A coordenadora da educação infantil pediu para eu retirar o livro “Cada família é de um jeito” da biblioteca, pois o conteúdo não era a linha de trabalho da escola. Um menina retirou o livro e a família disse que na Espanha o assunto não era tratado tão abertamente sobre os vários tipos de família. Eu disse que se a escola assumisse tal posição de não aceitar a diversidade, eu retiraria todos os livros sobre o assunto das estantes mas apenas com o respaldo da direção e coordenações. Ela disse que então era só para eu esconder o livro em uma estante mais alta.”

RELATO 18: “Biblioteca especializada em engenharia, portanto os livros que não fossem da área o diretor não queria que “ocupassem o espaço” na biblioteca, como se as pessoas não pudessem emprestar um livro para uma leitura lazer ou por gosto ou algo que não fosse relacionado ao trabalho. Aceitei uma doação de uns 30 livros de literatura geral e depois de catalogar e etiquetar todos, fui chamada e solicitaram que isso não acontecesse mais. Uma pena, pois somos seres humanos e não máquinas, portanto temos momentos de leitura a trabalho, leitura com família, leitura lazer e outros.”

RELATO 19: “A mãe de duas alunas adolescentes veio devolver esta obra (“Harry Potter e a criança amaldiçoada”, proibindo elas de continuarem a ler, mesmo elas já sendo leitoras frequentes aqui. Fiquei muito surpreso e tentei contextualizar a história e sua ludicidade; conversei bastante sobre outros títulos diferentes, mas ela foi irredutível, justificando motivos religiosos. Por fim, as duas garotas ficaram muito frustradas e não puderam retirar mais. A cultura, o amadurecimento e a educação mais uma vez sendo reprimidos pela censura.”

RELATO 20: “A censura partiu de algumas colegas de profissão que são de uma determinada denominação religiosa e achavam a obra (“A garota do calendário”) imprópria para os adolescentes da Instituição de Ensino, justificando que se fossem filhos (as) das mesmas, jamais deixariam que lessem o livro, por conter uma leitura erótica. Tive que retirar o livro da área designada para obras literárias (Na entrada da biblioteca) e deixar guardado por um tempo no processamento técnico, por enfim, após a procura por tal título cessar, retornei-o para o acervo bibliográfico, sem expôr na área de livros literários.”

RELATO 21: “Foram censuradas pela direção duas obras que os usuários da biblioteca universitária queriam muito para leitura: o volume 1 e 2 do “Foda-se” , mencionando que possui alunos de ensino fundamental 1 e 2, sendo que esses livros estavam sendo emprestados apenas para faculdade. Mesmo falando e mostrando, os livros foram retirado da biblioteca pela direção.”

RELATO 22: “Todos os exemplares do livro “Enquanto o sono não vem” foram retirados das escolas, em outras as páginas com a história que causou a polêmica foram coladas. No meu caso que sou contadora de histórias e já havia trabalhado essa historia, fiquei bem triste porque faltou a mediação adequada e não a censura da obra. Inclusive como contadora eu fui atacada nas redes sociais por postar um vídeo de minha filha de 7 anos contando essa história, para mostrar que só faltava o mediador adequado e não abolir a obra.”

RELATO 23: “Sendo essa autora espírita (“Zíbia Gasparetto”) de obras mediúnicas, uma diretora evangélica de escola PúBLICA mandou retirar TODOS os títulos dessa autora do acervo, e outros, do mesmo tipo.”

RELATO 24: “Sofri perseguição política do diretor da unidade na qual eu trabalhava. Por eu ser militante de um partido político e ele de outro. Ele fez de tudo o que pôde para me prejudicar. Por último ele cortava meu ponto mesmo eu estando na biblioteca trabalhando. Tentei chamar a atenção para os abusos que estavam sendo cometidos. Por fim, pedi a minha transferência, que é claro que ele não deu. Então resolvi sair e me libertar daquele verdadeiro cárcere. Nunca mais aceitei trabalhar em tais condições.”

RELATO 25: “Em 2018, uma autoridade da instituição, censurou a obra “Mônica Jovem” porque não possui vestes decentes para alunos do fundamental. O diretor informou não concordar com sua própria moral religiosa”.

RELATO 26: “Uma criança levou pra casa, pra ler, um livro que falava sobre orixás, pois um professo queria trabalhar a história. Quando os pais pegaram o livro, foram a escola reclamar e exigir que este tipo de literatura fosse retirado da escola pois não estava de acordo com certa religiões cristãs. Eles acusaram a escola de doutrinação.”

RELATO 27: “A Bibliotecária da biblioteca escolar retirou do acervo a pedido de uma usuária da biblioteca, os livros que tinham fotos e falavam sobre o corpo humano em desenvolvimento na juventude.”

RELATO 28: “Mãe achou absurdo a filha dela de 5 anos emprestar um livro que tinha relação com morte, sem saber nada sobre o conteúdo. O livro era “Contos para enganar a morte”, do Ricardo Azevedo”.

RELATO 29: “O aluno não gostou do livro “Histórias de índio” porque, segundo o seu pai, índios não existem, são fantasia e tudo relacionado com histórias de Fantasia são coisas do diabo”.

RELATO 30: “O diretor convocou uma reunião e solicitou a retirada do livro Donnie Darko para bibliotecária pois um professor o informou que o livro possuí-a as palavras “idiota” “bicha” além da capa parecer o diabo. A profissional Informou que de acordo com sua entidades profissionais (IFLA) e ética profissional não orientava a retirada de nenhuma obra e sim trabalhar de forma educacional juntos aos adolescentes, além de ser verba publica afinal estamos em escolas públicas. O Diretor informou que quem mandava era ele e iria ser retirado.”

RELATO 31: “Foi uma ordem vinda do governo estadual para retirar o livro Laranja Mecânica, e também outros, das bibliotecas escolares da rede estadual de ensino de Santa Catarina. A Justificativa foi de que não eram livros apropriados, mas não teve nenhum parecer técnico.”

RELATO 32: “Biblioteca recebeu a caixa de novas aquisições, coordenadora da escola pediu para ver a seleção que havia sido feita. Ao observar a coleção do Harry Potter, solicitou a retirada dos livros (NOVOS) pois a escola era cristã/católica e não permitia livros sobre bruxaria.”

RELATO 33: “Um aluno pegou o livro Harry Potter emprestado na biblioteca escolar em questão, e dois dias depois o pai dessa criança foi a escola fazer um escândalo sobre este livro estar disponível para estudantes menores de idade por conter “bruxaria” e “satanismo”.”

RELATO 34: “Sócia, que faz parte do conselho da biblioteca, fez a leitura do livro O Caderno Rosa de Lori Lamby” e achou um escândalo. Conversou com a gerente e diretor de cultura e pediu que fosse retirado da biblioteca.”

RELATO 35: “Nesta Livraria, que sempre ha novidades de nomes e editoras, um pai ficou extremamente irritado, porque “s’ havia livros de capa vermelha, de comunistas”. O dono que ao invés de defender, pelo contrário, começou a falar mal do Presidente Lula e que só vendia porque a “galera” pede muito estes livros. Confesso que na mesma hora, deu vontade de largar minha compra e sair.”

RELATO 36: “Alunos do PET-História pretendiam fazer uma leitura crítica de obras cujo viés eram de cunho fascista (análise acadêmica e suas particularidades), sendo um deles “Minha Luta”, do Hitler. Grupo de alunos barraram a possibilidade.”

RELATO 37: “Ocorreu uma reclamação de uma mãe sobre o livro ‘Deus me livre!’, que chegou até o prefeito da cidade. Por meio de live o prefeito avisou que tiraria todos esses títulos das salas de leitura das escolas municipais”.

RELATO 38: “A chefia me questionou o que tinha de conteúdo no livro ‘As vantagens de ser invisível’, porque um pai tinha reclamado e dito que o livro era de cunho sexual e não deveria estar no setor infanto juvenil, expliquei para a chefia do que se tratava o livro e que em nenhum momento censuramos a escolha da criança ou adolescente, e que os pais é que devem observar as escolhas das filhas/filhos. Por fim conseguimos que o livro permanecesse no acervo, o título trata de comportamentos de adolescentes em conflitos existenciais, em nenhum momento deveriam ser questionados sobre seu conteúdo.”

RELATO 39: “Eu era bibliotecária responsável pela unidade de informação e preparei a desiderata incluindo o ‘Alcorão’, atendendo à sugestão de um dos usuários. Após a compra, notei que a mesma havia sido suprimida da lista. Ao solicitar explicações para o que eu julguei ser um erro, recebi uma resposta muito triste: o livro havia sido “julgado” perigoso e impróprio para um acervo de uso público. Sou Yalorisha do Candomblé e argumentei que professar uma religião de matriz não judaico-cristã não era sinônimo de transgressão no Brasil, desde 1988. Porém, não consegui reverter a ordem dada por superiores.”

RELATO 40: “Um grupo de professoras utilizou o livro ‘Love makes a family para falar de famílias perto do dia das mães e alguns pais reclamaram pois o livro mostra diversos tipos de famílias, inclusive homoafetivas.”

RELATO 41: “Uma criança escolheu o livro Os beijinhos de Ceci para levar emprestado e a mãe não aceitou. Os bibliotecários resolveram fazer uma formação continuada com a professora Erika Oliveira que estuda o tema e no final do curso foi preparada uma contação de histórias com o livro A Princesa Kevin e a coordenação não autorizou.”

RELATO 42: “É um livro fotográfico (Meninas do Brasil) que seria comprado para bibliotecas escolares, pois apresentava um título que parecia mostrar meninas em situações cotidianas. No entanto, quando foi avaliado e apresentou fotos mais ousadas, o processo de compra foi interrompido e o título foi censurado até para ficar no acervo da biblioteca especializada.”

RELATO 43: “A bibliotecária da instituição disse que não colocaria a obra ‘Precisamos falar sobre Kevin’ no acervo porque achava que poderia influenciar os alunos da escola a agirem da mesma forma.”

RELATO 44: “Cheguei à biblioteca e a pedagoga me falou que recolheu o livro ‘Rosaflor e a Moura Torta’ e levou para o Diretor pois tinha uma ilustração de uma mulher seminua e os meninos se aglomeraram para ver.”

RELATO 45: “A coordenadora na escola censurou a apresentação de uma oficina sobre a história do livro ‘A princesa Kevin’ e queria restringir o acesso pelas crianças, além de reprimir o empréstimo”.

RELATO 46: “Foi realizada uma parceria entre projeto de extensão e bibliotecárias de uma creche e quando iríamos contar a história ‘Princesa Kevin’ para as crianças, as coordenadoras suspenderam as atividades, remanejaram uma das bibliotecárias e disseram que o livro era inadequado e que as/os responsáveis não queriam que ele fosse contado.”

RELATO 47: “O pai achou incomum as filhas disputarem um livro para ler, em casa. E foi ler e achou um escândalo o livro ‘Confissões de adolescente’ tratar de drogas, sexo, aborto, tudo que um ou uma adolescente tem curiosidade de saber.”

RELATO 48: “Eu separei livros de Karl Marx de uma disciplina para digitalizar e também gravar audios textos para uma pessoa com deficiência visual. A bibliotecária não queria que eu digitalizasse e nem gravasse. Jogou o livro, praticamente me chamou de Comunista e disse que eu não deveria ler porque ele viveu as custas da esposa dele. Fiquei indignada!!!”

RELATO 49: “A mãe entrou em contato com o colégio pedindo a retirada do livro ‘Os mundos de Teresa’ do acervo da Biblioteca alegando que se tratava de uma história que induzia à ideologia de gênero e à transexualidade. Além disso, durante sua pesquisa para identificar a autoria relacionou o autor, por pertencer ao grupo Banda Mirim aos atos sociais e a vida pública do Boulos.”

RELATO 50: “As obras que recebíamos, citadas acima (títulos de denominação religiosa fora do cristianismo da qual a bibliotecária participava) , simplesmente sumiam. Percebi que era por causa da religiao que ela seguia… Então, disse que poderia ajudá-la com o serviço (apenas disse isso nem terminei de falar) fui agredida verbalmente, com dedos apontados no meu rosto, foi tenso, fui chamada pela diretoria mas, expliquei a situação. Semanas depois houve uma ‘visita’ do setor de aquisição; a partir dai assumi meu papel como acadêmica de biblioteconomia que queria mostrar serviço e roubar a vaga da chefia. Lá vimos vários livros “danificados’ riscados, sem uma ou outra página ou encaixotados identificados como Material para descarte. A bibliotecária manteve seus argumentos que eram: impróprios para leitura, só ensina mentiras, imagens pornográficas, livros de magias, bandido escrevendo livros onde ja se viu?? a vida é assim!! apesar do lado louco tudo que eu pude aprender com ela sobre a parte técnica devo a ela.”

RELATO 51: “Eu estava numa biblioteca pública da cidade de São Paulo e vi uma adolescente buscando esse título, ‘Prazer de pecar’, que foi veemente criticado por um funcionário, não sei se era bibliotecário, que estava atendendo no local e disse que ” esse tipo de livro” não se encontrava em bibliotecas públicas e sim em banca de jornal barato. Eu já havia lido alguns livros da autora e indiquei um sebo da cidade onde ela poderia encontrar esse titulo entre outros.

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